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Cinqüenta anos de Tex Willer:
o renascimento do
Western italiano

por Paola de Martino
traduzido por Julio Schneider


A quê se assemelhava o Oeste?

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Embora as tiras e balões tenham aparecido na Itália apenas poucos anos depois de seu surgimento nos Estados Unidos, quando Bonelli e Galleppini iniciaram seus trabalhos com Tex era bastante difícil encontrar a documentação certa para ilustrar os lugares e as pessoas de uma terra que nenhum deles jamais havia visto.

Os italianos liam os primeiros quadrinhos americanos desde 1908. Naquela época o Corriere dei Piccoli trazia as páginas dominicais de Buster Brown, Happy Hooligan, The Katzenjammer Kids, The Newly Weds e sobretudo Little Nemo. Esses quadrinhos foram adaptados às características das revistas para crianças da época, o que eqüivale a dizer: censurar os diálogos e incluir simples legendas rimadas. Os primeiros quadrinhos italianos seguiram o mesmo esquema.

Nos anos Trinta, com a publicação das primeiras revistas, os adultos começaram a fazer parte dos leitores de quadrinhos. De costume, elas saíam semanalmente e continham artigos, ilustrações e jogos, tiras de quadrinhos americanos e italianos. Em edições como Topolino (Mickey Mouse) e L'Avventuroso os leitores encontravam algumas produções Disney, junto a Mandrake, The Phantom (Fantasma), Buck Rogers, Tarzan e muitos outros. Com a imposição de Mussolini de publicar apenas histórias com protagonistas italianos, as páginas dessas revistas sofreram uma brusca alteração de rumo. À exceção de Topolino, amado pelos filhos do Duce, os outros personagens foram "italianizados" ou "germanizados" e suas histórias foram traduzidas enquanto durou o estoque. Depois, as próprias histórias passaram a ser escritas por autores italianos. Federico Fellini, por exemplo, escreveu alguns episódios de Flash Gordon [nota III].

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Flash Gordon e Dale Arden
página dominical de Flash Gordon
desenho de Alex Raymond 1935 (c)

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Capa de Tex "Gigante" n.33
exemplo de "adaptação" dos quadrinhos clássicos
desenho de Galep (c) SBE

O western italiano nasceu "sob a estrela da cultura popular", afirma Giromini. Os artigos das primeiras revistas mais pareciam "páginas de romance" (de London, J.F. Cooper, Grey...) que artigos de jornais e isso ajudava a criar uma imagem fantástica da América. O fascismo e a guerra haviam deixado as coisas particularmente difíceis. O primeiro com seu ostracismo em relação à América democrática e selvagem, a segunda com miséria e destruição.

Por sorte, os autores deviam tratar com um público ainda mais despreparado que eles. Ingenuamente, as pessoas não podiam saber se alguns detalhes estavam certos ou errados e, acostumados com as mesmas fontes da narrativa aventurosa, até achavam coerentes as improváveis aventuras de seus heróis ítalo-americanos. Desde o início, Bonelli e Galep procuraram documentar-se sobre o Oeste americano. Suas principais fontes eram os romances de aventura, os filmes e as ilustrações publicadas em Il Giornale Illustrato dei Viaggi. Fizeram o melhor para respeitar a geografia em cada detalhe e a estudaram pelos mapas do Oeste. Porém, anos se passaram antes que Bonelli e Galep pudessem consultar um mapa da época de seus heróis ["Tex, e il sogno continua"] e tiveram que esperar ao menos uns dez anos para poder ler as primeiras descrições de índios que fossem além da visão imperialista dos primeiros livros escolares.

As alterações na figura de Tex, nas suas qualidades físicas e morais, e a maior exatidão em retratar paisagens, índios, lugares e objetos, andavam lado a lado com a idade do público e nisso reside, provavelmente, um dos segredos de sua longevidade. Num primeiro momento foram os filmes, de John Ford, Howard Hawks, Anthony Mann e por aí vai, com atores e atrizes carismáticos. O rosto de Tex foi modelado sobre o de Gary Cooper, Cary Grant, John Wayne e, mais tarde, sobre o do próprio Galleppini. Houve, naturalmente, reproduções de pinturas de Bodmer, Catlin, Remington e a narrativa western, sobretudo "do deserto", com seus clássicos publicados na coleção "Romantica" editada pela Sonzogno. Para Galep (Galleppini) a verdadeira inspiração veio das tiras populares de Flash Gordon e Rip Kirby, desenhadas por Alex Raymond, e, em particular, do Steve Canyon de Milton Caniff.

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"Meu nome é Tex" (c) 1975 Mondadori
Um outro modelo visual vinha da versão ilustrada dos romances de aventura de Salgari. Walter Molino, cujo estilo era considerado um exemplo a imitar, havia ilustrado "Sulle frontiere del West" ("Nas fronteiras do Oeste"). Apesar de todos esses modelos, Galleppini e Bonelli deviam confiar sobretudo na própria criatividade. Os cenários e os personagens diversificados exigiam mais modelos que aqueles que poucos artistas conseguiam encontrar. De conseqüência, muitos elementos visuais deviam ser inventados. Galleppini, que tinha na cabeça as fugazes imagens dos filmes americanos, devia preencher os vazios com imagens tiradas da própria fantasia ou da realidade mais próxima. Assim, começou a andar nas montanhas do Trentino e a colecionar esboços de gargantas, montanhas e vales que em seguida transferia para as páginas de seus quadrinhos ["Conversazione con Galleppini"].

Depois, para diversificar os rostos e personalidades dos vários personagens, inspirou-se nas características de vizinhos, colegas e amigos. No seu "Indiani di fantasia" ("Índios de fantasia"), Galleppini escreveu: "...de tudo o que me circunda tiro idéias e inspirações para meu trabalho. Perdoem-me, então, pelas vezes que os meus índios apresentaram uma aparência um tanto 'doméstica', como ocorreu com tantos outros elementos inseridos no meu Tex: talvez os rostos marcados e rugosos dos pescadores encontrados por acaso em uma praia qualquer da nossa Liguria não sejam de todo estranhos".

Comentando a qualidade fantástica e surreal dos primeiros western italianos, Antonio Faeti fala de "uma estrepitosa, extraordinária homenagem ao Oeste norte-americano" expressada na arte antes ingênua e depois madura dos primeiros criadores do western italiano ["I butteri di Nerbini, gli scorridori di Sonzogno"]. Talvez, se esses aspectos da cultura italiana fossem conhecidos pelos americanos à época dos Spaghetti Western (onde o surreal e o fantástico sempre estavam presentes), os críticos, ao contrário do que freqüentemente acontece, teriam ficado mais comovidos que irritados com a paródia e a distorção do seu mito nacional. Esse tributo foi uma maneira de integrar a extraordinária e ímpar aventura americana a uma sociedade mais antiga, por meio da cultura popular. Essa mesma cultura que define a paisagem mental de uma nação cuja cultura foi profundamente influenciada e transformada pela experiência americana, não apenas tendo a "Fronteira" como símbolo maniqueísta de mundos opostos, mas de um mundo com uma memória nacional que é um misto de "Wild West Show" e de um desfile de heróis do passado que fizeram a história.

G.L. Bonelli havia criado o herói como queria que fosse: um homem corajoso e generoso que não tolera a arrogância, o poder, a mentira e os soldados. Um homem que condena todo ato de violência gratuita mas que não teme nada e ninguém. Exemplo de dinamismo e de energia, como um concentrado de imagens do Oeste extraídas de filmes e da literatura, mas também dos heróis de London, Dumas, Hugo, Verne e Salgari, Tex é um híbrido que nasceu espontaneamente da imaginação de Bonelli e Galleppini, depois redefinido pelo filho de Bonelli, Sergio, por Claudio Nizzi e por diversos outros artistas. G.L. Bonelli amava a ação e as intrigas, Sergio tinha uma inclinação pelo fantástico, Nizzi voltou ao modelo original e tornou o herói ainda mais invencível e as histórias mais realistas.

Por outro lado, Bonelli e Galep amavam as terras desoladas e buscavam inspiração não apenas no Monument Valley de Ford mas também nos desertos da nativa Sardenha de Galep ["Tex, e il sogno continua"]; Ticci amava tanto as figuras quanto as paisagens, e procurou representar a tensão presente nos personagens antes e durante uma ação, para conferir à sua interpretação de Tex um realismo e um estilo cinematográfico; o próprio Tex, nascido com o semblante de Gary Cooper, ora se transforma em Charlton Heston, ora em John Wayne. A alternância de autores salvou a série da repetitividade e garantiu que os heróis se envolvessem, maturassem e se afinassem em harmonia com o espírito do tempo e com as novas sugestões que chegavam do cinema e da cultura [nota IV]. Alguns críticos, por exemplo, definiram o Tex atual como um "western crepuscular". Realmente, muitos dos episódios de Tex da época mostravam um personagem "mais dúbio e perplexo que aquele clássico, sem utopias triunfalistas e, ao mesmo tempo, com traços de amargura e franco lirismo, quando começa finalmente a ser tomado pela loucura da guerra e pela insensatez da violência, em estreitas relações com filmes como 'O pequeno grande homem' e 'Soldado Azul' ["Io sparo positivo"].

Concluindo, gostaria de sublinhar as progressivas abordagens de G.L.Bonelli ao problema racial. Volta e meia Tex enfrenta índios maus, mas entre os índios tem mais amigos que inimigos. Escrevendo numa época em que não existia o "politicamente correto" nem o "eurocentrismo", Bonelli tende a fazer com que os brancos predominem e, como é da tradição americana, não permite a sobrevivência de um matrimônio inter-racial. De outra parte, a própria Lilyth deve ter sangue misto, ao menos é o que deixam supor seu nome e seus olhos verdes. Essa redução da "Indianidade" provavelmente influi na sobrevivência de Kit Willer.

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Tex "Albo d'Oro" n.22/1 (c) 1949 SBE
Uma exceção ao problema racial: os Chineses, sempre maus
Em Tex, os índios representam uma cultura pré-histórica mas civilizada. Tex às vezes tem uma posição "imperialista" em relação a eles, mas geralmente fica fascinado e atraído por seu mundo. Certamente os italianos, mais que os americanos, podiam fantasiar sobre essa gente. Guiados pelo mito do "selvagem nobre" e, sendo um povo que nunca enfrentou índios nem trazia 'culpas secretas' em relação a eles, os italianos adoravam pensar que os índios bons eram todos bonitos, ágeis e orgulhosos. Seu linguajar poético e seu mundo espiritual representavam outro caminho em direção à liberdade ["Immagini degli Indiani"]. Porém, os estereótipos, a ingenuidade e a discriminação abundam.

De um lado, os jovens italianos eram levados a crer que os índios conseguiam decifrar frases completas em sinais de fumaça, cheias de adjetivos, número e tempos verbais ["Western Graffiti"]. De outro, uma tribo ou um índio que não fossem amigos, eram irremediavelmente estúpidos, tolos e sangüinários. G.L. Bonelli teve suas culpas com relação a isso. De fato, ele queria que, no mundo maniqueísta de Tex, todos os maus fossem representados como estúpidos, feios e mesquinhos. De acordo com ele, dava aos índios uma grande dignidade no momento em que esses fossem simplesmente os derrotados, empobrecidos e entristecidos pelas circunstâncias ["Conversazione con Bonelli"]. G.L. Bonelli escreveu que, de muitas formas, os índios representavam a figura negativa necessária na história. Ele não concordava com a nova moda de mostrar como bons todos os "lobos das fábulas". Pensava que todos sabíamos que a descoberta da América havia significado genocídio, mas se Tex tomasse muito o partido dos índios, provavelmente teria se tornado antipático. Bonelli, por outro lado, ama os índios mas não acha que seu estilo de vida possa ser compreendido pelo homem branco ["Mi sono simpatici"].

Quando Tex dava seus primeiros passos, um outro grande artista italiano, Hugo Pratt, escrevia e ilustrava uma história pró-indígenas. Sgt. Kirk, publicado na Argentina, é a história de um desertor do exército americano que opta por viver com uma tribo indígena das Planícies ["Comics of the American West"]. Foram necessários mais de vinte anos para que algo similar chegasse também aos filmes. Fora da grande indústria e longe do verdadeiro "West" já era possível "dançar com lobos".

Notas

I. Albertarelli admite numa entrevista (Linus, Set. 1966) que não conhecia nada do verdadeiro Kit Carson. Achou o nome num livro de Truslow Adams e soube que Carson foi um famoso caçador e um scout na expedição Fremont às Montanhas Rochosas e à California. De: Ferruccio Giromini, "'Spaghetti-Wilderness': un'epopea fantasticata."

II. De: Brunoro, Gedda e Verger, "Gli Ambienti" e "Tex, e il sogno continua" (49-76).

III. Este relato da história dos quadrinhos na Itália vem de uma página Web: "Italian Comics and the Industry of the Imagination". (http://www.bvzm.com/english/italianeng.html)

IV. A descrição do estilo dos diversos autores de Tex pode ser encontrada em muitas obras que consultei. Em particular, vejam os volumes "Tex", "Un Senese nel West con Tex e...", "Tex, e il sogno continua".

Relação das obras citadas
TÍTULO EDITOR AUTORES
"Un senese nel West con Tex e.." Florence: Glamour International Production, 1995 Becattini, Alberto, et al.
"Conversazione con Gianluigi Bonelli." Siena: Editori del Grifo, 1982 Eds. Mauro Paganelli and Sergio Valzania
"Mi sono simpatici!"
I Cerchi del Mondo..
Comune di Genova, 1983 Ed. Claudio Bertieri.
"Tex. La Leggenda. 1948-1998 cinquant'anni di avventure." Milan: Mondadori, 1997
"Il caso Tex, non a caso una storia lunga decenni" Florence: Glamour International Production, 1994 Eds. Gianni Brunoro, Antonio Carboni, and Antonio Vianovi
"Tex, e il sogno continua" Torino: Edizioni d'Arte Scarabeo, 1994 Brunoro, Gianni, Alberto Gedda, and Giovan B. Verger
"Cerco Piste Inconsuete."
I Cerchi del Mondo..
Comune di Genova, 1983 Canale, Antonio
"I butteri di Nerbini, gli scorridori di Sonzogno" Roma: Edizioni De Luca, 1994 Faeti, Antonio
"La scrittura malinconica. Sceneggiatura e serialità nel fumetto italiano." Firenze: La Nuova Italia editrice 1987. Frezza, Gino
"Conversazione con Aurelio Galleppini." Siena: Editori del Grifo, 1982 Eds. Mauro Paganelli and Sergio Valzania
"Indiani di Fantasia"
I cerchi del mondo..
Comune di Genova, 1983 Ed. Claudio Bertieri
"'Spaghetti Wilderness': un'epopea fantasticata." Roma: Edizioni De Luca, 1994. Girmoni, Ferruccio
"Comics of the American West" Stoeger Publishing Co., 1977 Horn, Maurice
"Io Sparo Positivo" Firenze, Italia: Glamour International Production, 1994. Mantegazza, Raffaele, and Brunetto Salvarani
Introduzione Montepulciano (Siena): Editori del Grifo, 1982 Paganelli, Mauro and Sergio Valzania
"I lavori bonelliani" Un senese nel West con.. Florence: International Glamour Productions, 1995 Spiritelli, Franco

 

 


 
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